Conhecido por interpretar a personagem Meire, comadre de Mainha em “Na Rédea Curta” - série online que virou espetáculo teatral e sairá também em longa-metragem -, o ator baiano Genário Neto estreou discretamente no cinema na semana passada, no filme “Carnaval”. Original da Netflix, a produção conta ainda com outros dois artistas da terra, Jean Pedro e Rafael Medrado.
“Eu fui convidado a partir de outra artista aqui de Salvador, Alethea Novaes. Ela tem alguns contatos com produtores de elenco, viu esse perfil desse filme e me indicou”, contou o artista, que no mesmo dia preparou o material, enviou, e em pouco tempo recebeu a aprovação da equipe. “Trabalhar em cinema sempre foi muito um desejo meu”, revela o artista, que cursou o 28° curso livre de teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e já estrelou mais de 20 espetáculos teatrais da cena local.
As filmagens de “Carnaval” começaram no período da folia, em 2020, e, por ser um personagem secundário, Genário conseguiu concluir suas cenas antes das gravações serem paralisadas pela pandemia, quando faltavam quatro diárias para concluir o trabalho. A retomada para o elenco principal, no entanto, foi em setembro.
O longa narra a “saga” de Nina (Giovana Cordeiro), uma jovem influenciadora digital que, após ser traída pelo namorado e virar meme, viaja à capital baiana com três amigas, na tentativa de superar o término e a exposição negativa, além de se firmar como influencer. Em Salvador - na verdade parte das cenas se passam em Praia do Forte, que pertence ao município de Mata de São João -, ela se depara com Luana (Flávia Pavanelli), celebridade digital que acumula milhões de seguidores e é tida como inspiração pela protagonista.
É justamente ao lado de Luana que entra o baiano Genário Neto, que encarna o assistente da influenciadora. “Quando ela está em Salvador, ela tem uma assessoria de pessoas tratando de roupa, maquiagem, e eu sou esse assessor dela, que vou acompanhando nesse sentido”, conta o artista, que teria um papel importante no desfecho da história, mas a passagem não foi ao ar.
“Essa personagem Luana dá um depoimento bem polêmico relacionado a preconceitos, ela acaba sendo homofóbica, gordofóbica, machista, racista, tudo numa frase só. E tinha uma cena que meu personagem, que acabava se encaixando nesse perfil, rompia com ela e tal. Mas, enfim, eu acabo de ver o filme e essa cena foi cortada”, conta o ator baiano. “Acontece, eu fiquei com muita pena mesmo, mas no audiovisual acontece, porque o principal é o geral e o que tiver que se cortar vai ser cortado”, completa, sem esconder a decepção, mas ao mesmo tempo resignado.
Cena cortada do filme "Carnaval" | Foto:Divulgação
O fim de Luana no filme foi previsível e um tanto quanto piegas. Depois das falas inoportunas, veio o cancelamento e, rapidamente, a presunçosa influenciadora fica mais discreta e humilde, foge dos holofotes e apaga o perfil nas redes sociais.
“Se a cena não tivesse sido cortada, o final do personagem seria esse: a personagem de Flávia Pavanelli está no ofurô, o assessor está perto conversando sobre a carreira dela e ele rompe com ela, joga o celular dela longe e vai embora. Ele, teoricamente, abandonaria ela por sofrer todos os ataques que ela praticou. Mas não aconteceu, você é uma das poucas pessoas que sabe (risos)”, relata o ator.
NA RÉDEA CURTA
Genário no papel de Meire, ao lado de Mainha (Sulivã Bispo) | Foto: Florian Boccia
Se em “Carnaval” a performance de Genário foi apagada, por outro lado, ele está prestes a retornar às telas e brilhar no projeto cinematográfico do “Na Rédea Curta”, que também foi impactado pela crise sanitária.
“As gravações começaram também em 2020, no início da pandemia. Na verdade, uma semana depois que eu terminei a Netflix, começou o ‘Na Rédea Curta’. Eu não cheguei a gravar, porque não era meu dia de gravação, mas teve cinco dias de gravação e tudo teve que parar novamente por conta da pandemia”, lembra o artista, que após dois adiamentos, prevê que a equipe volte ao set em agosto, caso a atual programação possa ser mantida. “Vamos esperar também, porque se precisar adiar vai adiar”, pontua.
Intérprete de Meire - comadre de Mainha (Sulivã Bispo) e madrinha de Júnior (Thiago Almasy) -, Genário Neto conta que suas cenas ainda não foram registradas e ocorrerão no Recôncavo baiano. “Minhas gravações vão ser todas em Cachoeira, porque o filme se passa lá e em Salvador. Já tive contato com roteiro, mas ainda não tive contato com o set e a produção do filme presencialmente, mas já começou a ser gravado”, revela o artista.
Além dos locais de filmagem, Genário confirmou que o filme seguirá tendo como foco a relação familiar de mãe e filho, mas revelou que os público pode esperar surpresas. “Coisas novas vão aparecer, inclusive coisas que as pessoas que acompanham estão sempre perguntando. ‘E essa pessoa? E esse parente, o que acontece?’. Então, vamos dizer assim, esse âmbito familiar mãe e filho vai aumentar pra trazer mais personagens pra essa família”, disse o ator, sem deixar escapar quem mais entrará na história, além dos já conhecidos Mainha, Júnior, Meire, Bisteca (Rodrigo Villa) e Keilane (Bárbara Portugal). “O filme lembra um pouco também a história do passado, tem essa coisa do passado. É o que eu posso dizer! (risos)”, deixa a pista, aguçando a curiosidade sobre a possível aparição física do pai de Júnior ou a revelação sobre o nome de Mainha.
Elenco de "Na Rédea Curta" | Foto: Florian Boccia
Além dos longas, Genário Neto tem mais dois projetos em audiovisual no horizonte: O espetáculo“Nau”, ainda sem data de estreia prevista, dentro da segunda edição do edital Fábrica de Musicais, da Fundação Gregório de Mattos; e “Via Láctea”, um curta-metragem dirigido pelo parceiro Thiago Almasy, previsto para sair este mês. “O curta trata um pouco da chegada da pandemia e atinge essas personalidades que são humanas e também não são. A protagonista é uma mulher preta, interpretada por Márcia Lima, e a gente faz uma reflexão sobre isso também, sobre os percalços que ela pode encarar”, explica o artista, que além de atuar, também assina o roteiro da obra.
Somado a isso, o ator também se prepara para voltar aos palcos em um possível trabalho na Europa. “No final de 2020 existiu um convite pra fora do país, porque eu já estudei e morei em Portugal e tenho esses contatos com umas pessoas. A gente namora muito esse projeto, ele foi aprovado mas precisou ser suspenso porque foi o momento em que chegou lá a segunda onda”, conta o baiano, sobre a criação de um espetáculo em conjunto com um grupo português. “Se acontecer e tudo der certo, provavelmente esse ano eu devo dar uma puladinha lá”, conta o artista, que segue na torcida pelo controle da pandemia para alçar novos voos.