A política comercial que será adotada por Donald Trump como presidente dos Estados Unidos segue em destaque no radar de preocupações da economia mundial.
Empossado nesta segunda-feira (20), o republicano voltou a sinalizar que irá “estabelecer tarifas e impostos sobre os outros países para enriquecer os nossos cidadãos”.
O impacto de uma política tarifária mais dura nos EUA seria de redução nas exportações ao país, e essa é uma preocupação que também é compartilhada pelos brasileiros.
“Duvido que o Brasil escape de receber restrições na exportação de produtos metalúrgicos e siderúrgicos [por exemplo]. Já teve esboço disso no primeiro [mandato de] Trump, e agora vai vir pra valer”, avaliou ao CNN Money Otaviano Canuto, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco Mundial.
“Quando Trump fala em estrangeiros pagarem as tarifas em compensação por outros benefícios que a economia americana concede, tenho uma suposição de que, na hora que a tarifa é implementada, tem uma valorização do dólar que mantém o preço em dólar do produto importado. O ônus acaba sendo sobre o exportador, que recebe bem menos do que sem as tarifas.”
Inflação e juros
Ainda restam dúvidas sobre a maneira como será de fato a política comercial adotada por Trump. O presidente dos EUA planejava algo em torno de 100 novos decretos para sua posse, porém sem se direcionar à questão tarifária.
Ainda assim, algumas consequências da aplicação dessas cobranças parece clara aos economistas. “O mais provável é que as tarifas levam a choques de preços domésticos”, disse o ex-vice-presidente do Banco Mundial.
O efeito direto de uma inflação persistente no país seria de o Federal Reserve (Fed) ter que manter prolongar o período de juros altos.
As autoridades do banco central norte-americano já sinalizam que estão em alerta para os impactos da política do republicano.
Balança comercial
Em 2024, o Brasil superou pela primeira vez a marca de US$ 40 bilhões em exportações aos EUA. Apesar de ainda deficitário, o resultado mostra aumento de ganho do lado brasileiro.
A maioria dos exportados são bens oriundos da indústria de transformação — como produtos de ferro e aço —, equipamentos e partes de aeronaves, além de celulose.
O setor é responsável por 78% das vendas aos EUA. Petróleo — o item mais vendido, com 14% das exportações —, combustíveis e café também figuram entre os principais destaques.
É nestes números onde os economistas ouvidos pela CNN apontam os principais impactos de um novo governo Trump.
“Os Estados Unidos são um parceiro muito estratégico para o Brasil. A dificuldade de exportarmos será o impacto mais direto [de sua política comercial]”, pontuou Sampaio.
China
Sampaio ainda destaca um potencial impacto indireto das tarifas de Trump. Neste caso, a China é peça central na medida.
Em 2024, o gigante asiático foi responsável por 28% das exportações do Brasil.
O republicano já havia anunciado anteriormente que pretendia taxar os produtos oriundos do país asiático, numa escala ainda mais dura que a pensada para outras economias.
Caso o plano acabe vigorando, avalia-se a possibilidade de esfriamento na economia chinesa — refletindo no Brasil.
“Se a China exporta menos para os Estados Unidos, vai demandar menos produtos do Brasil, uma vez que a economia desacelera. São impactos indiretos, mas uma política desse tipo não teria impacto só local, impactaria a balança do Brasil com outros países também”, pontuou o economista da FGV.
Outro alerta que os economistas acendem é o de se instalar uma guerra comercial entre os EUA e os países alvo de suas taxações.
“Esse jogo de ação e retaliação, é uma disputa que, no limite, leva à perda de todo mundo, mesmo que no curtíssimo prazo os Estados Unidos pareçam ganhar”, afirmou Otaviano Canuto ao CNN Money.